Texto originalmente publicado antes dos agradecimentos da minha Tese de Doutorado em Educação, apresentada no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, no ano de 2017…
“Escrever uma dissertação, e agora uma tese foi experienciar os dias mais solitários da minha vida. Não vejo esta solidão como algo negativo, mas como um momento de autoconhecimento e de introspecção, tão raros atualmente nesta sociedade online em que vivemos. Por ter vivenciado esse período com tanta intensidade (como tudo que faço na vida), resolvi escrever esta reflexão aqui para registrar esse meu momento tão particular e tão (in)comum…
Por muitos dias me fiz sozinha no escritório e mais recentemente na cama a escrever freneticamente… sim, assim que me sentia nos momentos de escrita mais intensa… Frenética!
Quando começamos um mestrado ou doutorado ninguém nos conta um monte de coisas… Entre essas coisas está o fato de que a parte mais difícil disso tudo não será o processo seletivo… Não será a construção do projeto inicial e nem a construção do projeto que vai para o parecerista no meio do trajeto todo…
Ninguém nos conta que quando você está fazendo ainda as disciplinas obrigatórias é o melhor momento, o momento que você ainda está acostumada, afinal, fazer disciplina você fez durante toda a sua graduação… O que vai ser difícil mesmo será a escrita… A coleta de dados… As escolhas metodológicas… As escolhas teóricas… ah, as escolhas… Essas sim vão te tirar o sono… Vão fazer você querer voltar a ler aqueles textos semanais, participar daqueles debates infindáveis em sala de aula…
Acredite, você vai sentir falta dessa fase! Posso estar sendo mais sentimental do que a maioria das pessoas, mas é como eu me senti… E posso afirmar pelo que vi e vivi que essa não é uma trajetória prazerosa para a maioria das pessoas… Não sei se devia estar escrevendo isso na minha tese, mas o romantismo com que muitas pessoas entram para o doutorado é perigoso, por isso muitos adoecem durante esse percurso (física e psicologicamente)…
Ninguém nos conta que teremos meses e meses de completo afastamento do nosso objeto de pesquisa e, principalmente, da escrita, não seremos produtivos todo o tempo e isso é muito normal e até saudável… Precisamos desses tempos de cerveja, vinho, viagens, amor, amigos, família, respiros e suspiros para depois voltamos a escrever…
Normalmente este retorno acontece depois de um dia inteiro de choro e desespero porque estamos vendo os meses passando e não estamos produzindo ou depois de uma boa terapia (ou as duas coisas no mesmo dia)…
Estou escrevendo isso aqui hoje para que vocês saibam: isso tudo que você vai viver, esse turbilhão de situações e emoções, quando decidir fazer um mestrado ou doutorado são coisas normais e saudáveis! Vivam!
Sua vida não vai parar para que você se qualifique profissionalmente… os filhos virão, os amores irão, os pais podem morrer, os amigos podem precisar muito do você, você pode (e vai) precisar muito dos amigos, as pessoas vão nascer, adoecer, melhorar, comemorar, acidentes podem acontecer…
Então, fica a dica mais valiosa que só percebi pra lá do meio de todo esse processo: Não é preciso deixar de viver para ser mestre ou doutor em nenhuma área do conhecimento… viva e faça com que a sua tese faça parte da sua vida de alguma forma. Não é preciso que ela seja a sua vida, mas é importantíssimo que ela faça parte, realmente!”