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Mês: Fevereiro 2021

A ridícula ideia…

Vou pedir licença para escrever no feminino, primeiro porque sou mulher e falo prioritariamente para mulheres (especificamente neste caso), segundo porque estou falando de um livro escrito por uma mulher, falando da vida de outra mulher.

Acho que o ano era 2019, antes da pandemia começar, antes do luto ser uma temática tão falada, uma amiga me indicou o livro. O livro é “A ridícula ideia de nunca mais te ver” (de Rosa Montero) e já com esse título você pode pensar que é um livro sobre separação, sobre alguém que se mudou para o outro lado do mundo, embora hoje, com tanta tecnologia só há uma maneira de realmente nunca mais se ver alguém… A morte!

Só que não é um livro sobre a morte (como a autora já anuncia em sua primeira página), mas um livro sobre a vida, sobre uma grande parte da vida de uma (ou duas) das mulheres mais fortes que nós já tivemos notícia! Rosa Montero e Marie Curie!

É um livro sobre o pioneirismo, mas também sobre o luto vivido pelas duas mulheres e a ressignificação, palavrinha que temos usado tanto nos dias atuais e vivenciado tão pouco. Rosa Montero e Marie Curie não se conheceram, não são contemporâneas, mas viveram (e vivem) histórias próximas, parecidas e talvez complementares… Histórias de perdas, de luta e de luto, de encontrar o seu lugar na literatura e na Ciência, respectivamente… Rosa perdeu seu marido, Pablo, após uma grande luta contra o câncer, história que ela conta, embora timidamente, costurando com a vida e luto de Marie, que perdeu Pierre atropelado…

Rosa só conseguiu ter acesso à sua história de maneira tão completa, próxima e sensível, porque Marie escreveu um diário depois da súbita, da abrupta, da ridícula morte de Pierre Curie… Escrever amenizou a dor dessas mulheres? Penso que não! Não senti a dor amenizada, mas depois de ler o livro e o diário (que está como apêndice ao livro) tenho certeza de que ler amenizará a dor de muitas mulheres (e homens) que nunca mais verão alguém!

Entre tantas reflexões importantíssimas, Rosa deixa uma dica (se é que posso chamar assim) de como ressignificar o luto ao dizer que,

A arte em geral, e a literatura em particular, são armas poderosas contra o Mal e a Dor. Os romances não o vencem (são invencíveis), mas nos confortam do espanto. Em primeiro lugar, porque nos unem ao resto da humanidade: a literatura nos torna parte do todo e, no todo, a dor individual parece que dói um pouco menos. Mas a magia também funciona porque, quando o sofrimento nos alquebra, a arte consegue transformar essa ferida feia e suja numa coisa bela” (MONTERO, 2013, p. 105-106).

Conhecer a vida de Marie é inspirador para quem está discutindo ou pretende discutir o lugar da mulher na Ciência, mas conhecer este pedaço da vida de Curie de forma tão humanizada pelas palavras de Rosa pode ser ainda mais importante, para que possamos perceber que ela lutou contra inúmeras adversidades (internas e sociais), mas também que ela não era infalível, que errava, levantava, que viveu grandes dificuldades em sua vida, inclusive financeira, mas que se reergueu, que “venceu”. Coloco o vencer entre aspas porque não consigo definir fielmente o que é vencer. A primeira mulher a ganhar um prêmio Nobel e a única a ganhar dois, mas que abdicou de tantas coisas pela Ciência, inclusive de sua própria saúde… Será que isso é vencer?

Poderia dizer muitas outras coisas sobre o livro, mas apenas direi que a conversa com esse livro é imperdível! Sim, uma conversa porque tenha certeza que em muitos momentos, no decorrer dele, você vai pensar que está lendo uma mensagem de uma amiga contando alguma coisa, de tão próxima que se sentirá da autora e de Marie.

Neste livro, além de trazer à tona a história de vida de uma das mulheres mais importantes da Ciência mundial, Rosa faz rir e faz chorar, mas principalmente faz refletir sobre quem somos nós, as mulheres que atuam nas Universidades, nas escolas, nos centros de pesquisa, nas grandes descobertas, nas questões políticas, no sistema jurídico, nos lares, nas reitorias, somos mulheres que sentimos dores e que nem sempre falamos sobre isso, nem sempre encontramos com quem falar delas, embora tenhamos companheiras e companheiros maravilhosos… A dor é algo tão íntimo, tão nosso, que nem sempre dizer desta dor resolva… Neste sentido,

“A verdadeira dor é indizível. Se você consegue falar a respeito das suas angústias, está com sorte: significa que não é nada tão importante. Porque quando a dor cai sobre você sem paliativos, a primeira coisa que ela lhe arranca é a #palavra. É provável que você reconheça o que estou dizendo; talvez já o tenha experimentado, pois o sofrimento é algo muito comum em todas as vidas (assim com a alegria). Falo daquela dor que é tão grande que nem parece nascer de dentro, como se você tivesse sido soterrada por uma avalanche. E está tão enterrada debaixo dessas toneladas de dor pedregosas que não consegue nem falar. Você tem certeza de que ninguém vai ouvi-la.” (MONTERO, 2013, p. 21)

Além das dores não dizíveis, atualmente, no ano de 2020/21, estas mulheres têm visto a sua produção científica despencar em relação à produção masculina. Com a pandemia da COVID-19, com todas as restrições que estamos vivenciando a partir dela, especialmente as mulheres que têm filhos, a rotina de muitas delas transmutam em horas infindáveis de trabalho, que não cabem nas 24 horas que um dia tem. 

Ao buscar conhecer mais um pouco sobre esta rotina e registrá-la para futuros estudos, eu e outras duas mulheres propomos o dossiê “Pandemia, mulheres, mães, cientistas, pesquisadoras e as tecnologias…” na revista SCIAS – Educação, Comunicação e Tecnologia. Sugiro a leitura do livro, dos 26 relatos das 49 autoras do Brasil e do exterior, que trazemos no dossiê e se quer continuar lendo mulheres falando de mulheres, sugiro que leia também outro livro da Rosa Montero: “Nós, mulheres: grandes vidas femininas”. Depois vem o relato! 

Texto retirado de: http://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/a-ridicula-ideia-de-nunca-mais-te-ver/

O lugar da educação… e um achado muito peculiar…

Hoje fui a quatro livrarias em Belo Horizonte… em tempos de pandemia, acho que esse tem sido uns dos lugares mais seguros para ir dar uma volta, ver novidades e divertir um pouco… na primeira perguntei sobre onde estavam os livros de EDUCAÇÃO e me apontaram para uma prateleira de mais ou menos 60cm… com títulos dos mais diversos desconhecidos… não que o desconhecimento seja ruim, mas nada dos clássicos e nenhum Paulo Freire… assustador!
Na segunda livraria os livros de educação estavam junto com TEORIA CRÍTICA… Sinceramente, nem me dei ao trabalho de procurar o título que eu queria misturado com tudo…
Na terceira livraria a seção de educação estava quase no chão, embaixo de uma grande prateleira e para acessá-la precisei ficar abaixada de cócoras e bem curvada para não bater a cabeça na prateleira de cima…
Aí decidi ir à livraria específica de educação daqui da cidade e encontrei uma possível preciosidade… TELEDUCAÇÃO ou Educação a Distância – Fundamentos e métodos de Juan E. Díaz Bordenave. Um livro falando de teleducação de 1987! Uaaau
Já tinha lido Bordenave (O que é participação) quando escrevi meu TCC da primeira pós-graduação e decidi experimentar esse livrinho pitoresco!
Estou ainda no primeiro capítulo, mas já posso destacar algumas preciosidades:
Na introdução uma fala hipotética do Ministro da Educação “…o Governo simplesmente não tem o dinheiro que precisaria para construir todas as escolas e pagar todos os professores que seriam necessários para dar educação a todos. Que posso fazer?” e o autor responde que “Parte da resposta possível chama-se teleducação”.
Já no primeiro capítulo o autor tenta conceituar teleducação e isso deixa mais claro ainda que o livro é realmente de meu interesse: “Teleducação vem de telos que em Grego significa distância. Assim como telefone se refere a som a distância, teleducação indica educação a distância. Não significa apenas educação por televisão, como muitos pensam, mas qualquer forma mediatizada de educação, isto é, onde o contato entre professor e aluno é feito pela intermediação de um ou de vários meios de comunicação” (BORDENAVE, 1987, p. 13)
Vou continuar lendo… tendo mais trechos interessantes, deixo aqui…
A questão é que eu fui em três livrarias conhecidas e importantes de BH e que a educação estava sendo tratada com algum descaso… pensemos sobre isso, livreiros!

P.S. Eu estava procurando um livro da Ana Elisa Ribeiro pra escrever sobre ele para um jornal que estou começando a escrever… em nenhuma das 4 livrarias tinha… =(